“Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia.”Thiago,3/17

“Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.” João – 15:7

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Dretrizes de segurança - Continuação

21 -Qual a finalidade de médiuns curadores ?

Divaldo - A prática do bem, do auxílio aos doentes. O Apóstolo Paulo já dizia: “Uns falam línguas estrangeiras, outros profetizam, outros impõem as mãos”...’
Como o Espiritismo é o Consolador, a mediunidade, sendo o campo, a porta por meio da qual os Espíritos Superiores semeiam e agem, a faculdade curadora é o veículo da Misericórdia para atender a quem padece, despertando-o para as realidades da Vida Maior, a Vida Verdadeira. Após a recuperação da saúde, o paciente já não tem o direito de manter dúvidas nem suposições negativas ante a realidade do que experimentou.
O médium curador é o intermediário para o chamamento aos que sofrem, para que mudem a direção do pensamento e do comportamento, integrando-se na esfera do bem.

22 -É normal que médiuns dessa natureza se utilizem de instrumental cirúrgico, de indumentária, que os caracterizem como médicos?

Divaldo - Na minha forma de ver, trata-se de ignorância do espírito comunicante, que deve ser devidamente esclarecido, e de presunção do médium, que deve ter alguma frustração e se realiza dessa forma, ou de uma exibição, ou, ainda, para gerar maior aceitação do consulente que, condicionado pela aparência, fica mais receptivo. Já que os espíritos se podem utilizar dos médiuns que normalmente não os usam, não vejo porque recorrer à técnica humana quando eles a possuem superior.

23 -Quais os cuidados que se deve tomar para que o médium curador não se apresente como um curandeiro e não esteja enqüadrado no Código Penal, pela prática ilegal da medicina?

Divaldo - Primeiro, que ele estude a Doutrina Espírita, porque todo e qualquer médium que ignora o Espiritismo é alguém que caminha em perigo.
Por que é alguém que caminha em perigo? Porque aquele que ignora os recursos que possui, que se desconhece a si mesmo, é incapaz de realizar um trabalho em profundidade e com equilíbrio. Se estuda a Doutrina, fica sabendo que a faculdade de que se encontra revestido é temporária, é o acréscimo de responsabilidade, também uma provação, na qual ele estará sendo testado constantemente e deve sempre, em cada exame, lograr um resultado positivo.
Depois de se dedicar ao estudo da Doutrina, deve se vincular a um Centro Espírita, porque um dos fatores básicos do nosso comportamento é a solidariedade, em trabalho de equipe. Estando a trabalhar num Centro Espírita, ele estará menos vulnerável às agressões das pessoas frívolas, irresponsáveis, dos interesseiros; terá um programa de ação, em dias e horas adrede estabelecidos. Então, não ficará à mercê da mediunidade, em função dela, mas será um cidadão normal, que tem seus momentos de atender, trabalhando para viver com dignidade e renunciando as suas horas de descanso em favor do ministério mediúnico.
Para que ele se poupe de ficar incurso no Código Penal, deve fazer o exercício da mediunidade sem prometer, sem anunciar curas retumbantes, porque estas não podem ser antecedidas, e a Deus pertencente, e não retire da mediunidade nenhum proveito imediato, porque o curandeirismo implica em exploração da ingenuidade do povo, da superstição e da má-fé. Se ele é dotado de uma faculdade mediúnica, seja qual seja, dentro de uma vida regular e equilibrada, preservar-se-á a si mesmo. Se, eventualmente, for colhido nas artimanhas e nas malhas da Lei, isto será conseqüência da Lei Divina.
Que ele saiba pagar o preço do ministério que executa, que lhe foi confiado pelo Senhor.

24 -O endeusamento do médium constitui perigo para a mediunidade? Por quê?

Raul - Evidentemente que tudo aquilo que constitui motivo de tropeço na estrada de qualquer criatura naturalmente poderá levá-la à queda. Em se tratando de médium e de mediunidade, todo e qualquer endeusamento é plenamente dispensável, mesmo porque entendemos que o médium não fala por si próprio. O que ele apresenta de positivo, de nobre, de engrandecedor, deve-se à assistência e à misericórdia dos Espíritos do Senhor, não havendo motivo, portanto, para que se vanglorie de uma virtude, de uma grandeza que ainda não lhe pertencem.
Por outro lado, se o fenômeno ao qual ele serve de intermediário não constitui essa grandiosidade, se são fenômenos modestos, ou se houve algum equívoco ou alguma fragilidade nas colocações que alguma entidade apresentou, também não é motivo para que o médium se atormente, se entristeça, porque terá sido apenas filtro. Necessita, sim, a partir de então, de ter o cuidado de estar cada dia mais vigilante, para que esse empobrecimento não se amplie, para que não seja co-participante dessa deficiência e para que ele, cada vez mais, se dê conta de que a vaidade poderá ser-lhe prejudicial.
Por isso, qualquer endeusamento é desnecessário, é improfícuo. Isso não dispensa que os companheiros, que estejam lidando com o médium, o possam incentivar para que ele cresça, para que ele se desenvolva cada vez mais e melhor, para que estude, para que sirva, para que trabalhe. Assim afirmamos, porque temos visto oculta por trás desse broquei do nio-endeusamento uma parte muito considerável de um personalismo infeliz, de um despeito atormentante.
Muitas vezes, diz-se que não se deve elogiar o médium, porque não haveria necessidade para tanto. Porém, não se lhe diz nenhuma palavra que o impulsione para a frente, determinando uma posição de despeito, ou de indiferença. Se não precisamos dizer à criatura que ela é um médium melhor que Chico Xavier, e todos saberão que é uma inverdade, poderemos dizer: prossiga, meu irmão ou minha irmã, vá adiante... O Chico também começou nas lutas das suas experiências iniciais, claro que estamos deixando de lado aquela continuidade de tarefas que ele vem fazendo desde reencarnações anteriores, mas, de qualquer maneira, mesmo em encarnações anteriores ele iniciou pelo simples, pelas coisas mais modestas, e se hoje ele é esse filão de grandiosa mediunidade, é porque esforçou-se, devotou-se nesse anelo da perfeição espiritual.
O endeusamento, então, será sempre dispensável, mormente para aqueles médiuns que estejam começando, mas não deveremos deixar de incentiva-los, doutrinariamente, para que não sejam desanimados pela onda terrível que agride médiuns e mediunidades, nesses dias, que lança descrédito e tenta jogar desdouro por sobre a tarefa mediúnica.

25 -O médium pode trocar a tarefa mediúnica por outra atividade doutrinária?

Divaldo - A tarefa mediúnica estará presente na vida do instrumento, onde quer que ele se localize. É óbvio que a tarefa mediúnica foi por ele elegida e não seria lícito que a abandonasse a meio do caminho, num mecanismo de fuga à responsabilidade, para a realização de outra que, certamente, não levará adiante, O indivíduo, por exercer a mediunidade, pode e deve assumir outras tarefas que dizem respeito ao labor da Casa Espírita, mesmo porque a mediunidade não irá tomar-lhe o tempo integral, de modo que o impeça de vivenciar a programática da Doutrina Espírita em outros níveis.
Neste momento, eu vejo aqui um médium desencarnado, que viveu em Belo Horizonte. Era militar e se chama Henrique Kemper Borges. Entregou-se à mediunidade, trabalhando por longos anos a fio, sem que isso lhe perturbasse o labor da vida militar, social e doutrinária abraçado, porque a educação da mediunidade, diz ele, “faz parte do Evangelho de Jesus e, à luz da Codificação Espírita, é uma diretriz de equilíbrio no culto do dever que o espírito encarnado assume, para liberar-se do passado comprometido com aqueles a quem prejudicou e que ainda se encontram na erraticidade inferior, necessitando de sua ajuda e de seu apoio. Qualquer motivo que objetive desviá-lo da tarefa abraçada é mecanismo de fuga para acumpliciamento com a ociosidade.”

26 -Se o médium interrompe sua tarefa mediúnica, pode isto lhe causar danos? Por quê?

Divaldo - O êxito de qualquer atividade depende do exercício da aptidão de que se é objeto. A mediunidade, segundo Allan Kardec, “é uma certa predisposição orgânica”1 de que as pessoas são investidas. A faculdade mediúnica é do espírito. A mediunidade é-lhe uma resposta celular do organismo. Apresenta-se como sendo uma aptidão. Se a prática não é convenientemente educada, canalizada para a finalidade a que se destina, os resultados não são, naturalmente, os desejados. A pessoa, não conduzindo corretamente as suas forças mediúnicas, não logra os objetivos que persegue. Abandonando a tarefa a meio termo, é natural que a mesma lhe traga os efeitos que são conseqüentes do desprezo a que está relegada. Qualquer instrumento ao abandono é vítima da ferrugem ou do desajuste. Emmanuel, através da abençoada mediunidade de Chico Xavier, afirmou com lógica:
“Quanto mais trabalha a enxada, mais a lâmina se aprimora. A enxada relegada ao abandono vai carcomida pela ferrugem.”
Quando educamos a mediunidade, ampliando a nossa percepção parafísica, desatrelamos faculdades que jaziam embrionárias.
Se, de um momento para outro, mudamos a direção que seria de esperar-se, é óbvio que a mediunidade não desaparece e o intercâmbio que se dá muda de condutor. O indivíduo continua médium, mas já que ele não dirige a faculdade para as finalidades nobres vai conduzido pelas entidades invigilantes, no rumo do desequilíbrio.
Daí dizer-se, em linguagem popular, que a mediunidade abandonada traz muitos danos àquele que dela é portador. Isso ocorre porque o indivíduo muda de mãos. Enquanto está no exercício correto de suas funções, encontra-se sob o amparo de entidades responsáveis. Na hora que inclina a mente e o comportamento para outras atividades, transfere-se de sintonia, e aqueles com os quais vai manter o contato psíquico são, invariavelmente, de teor vibratório inferior, produzindo-lhe danos.
Também seria o caso de perguntarmos ao pianista o que acontece com aquele que deixa de exercitar a arte a que se dedica no campo da música. Ele dirá que perde o controle motor, que as articulações perderam a flexibilidade, a concentração desapareceu e ele vai, naturalmente, prejudicado por uma série de temores que o assaltam, impedindo-lhe o sucesso. A mediunidade é um compromisso para toda “a vida” e não apenas para toda a reencarnação. Porque, abandonando os despojos materiais, o médium prossegue exercitando a sua percepção parafísica em estágios mais avançados e procurando chegar às faixas superiores da Vida.

1. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo, capítulo 24º, item 12, 92ª edição, FEB, Brasília - DF, 1986.

27 -Em mediunidade, o que seriam sintonia, ressonância e vibrações compensadas?

Divaldo - A sintonia, como o próprio nome diz, é a identificação. Estamos sempre acompanhados daqueles que nos são afins. A emissão de uma onda encontra ressonância num campo vibratório equivalente. Aí temos a sintonia, como numa rádio que emite uma onda e é captada por um receptor na mesma faixa vibratória. A sintonia de Chico Xavier com o Espírito Emmanuel dá essa ressonância maravilhosa, que é a obra abençoada que o Instrutor mandou à Terra. A ressonância seria o efeito que decorre do mecanismo de sintonia. E as vibrações compensadas são aquelas que oferecem, como o próprio nome coloca, a resposta dentro do padrão de reciprocidade. Quando Chico sintoniza com Emmanuel recebe a compensação do benefício que decorre daquela onda provinda do Benfeitor, que lhe responde ao apelo através do bem-estar que lhe proporciona. Essa compensação pode ser positiva ou negativa. Se elaboramos idéias infelizes somos compensados pelas respostas das entidades afins, que se comprazem em nos utilizar na viciação toxicômana, alcoólica, tabagista ou no exagero em qualquer função ou hábito.
Quando oramos ao Cristo, ou oramos a Deus, recebemos imediatamente a compensação do bem-estar que decorre de estarmos sintonizados com o Alto.

28 -Qual o papel dos centros vitais no intercâmbio mediúnico?

Raul - Encontramos os centros vitais como sendo representações do corpo psicossomático ou perispírito, correspondendo aos plexos no corpo físico.
São verdadeiras subestações energéticas.
À proporção que encontramos no mapa fisiológico do indivíduo, os diversos entroncamentos nervosos, de vasos, de veias, temos aí um foco de expansão de energia.
O nosso centro coronário, que é a porta que se abre para o cosmo, é a “esponja” que absorve o influxo de energia e o distribui para o centro cerebral, para o centro laríngeo, e, respectivamente, para outros centros que se distribuem com maior ou menor intensidade, através do corpo. Sabemos que tais energias, antes de atingir o corpo físico, abrigam-se no corpo espiritual. Do mesmo modo como se tivéssemos uma grande cisterna de água abastecendo uma cidade, tendo em cada residência a nossa particular, verificamos no organismo a grande “cisterna” que absorve as energias de maior vulto, que é o citado centro coronário, e as pequenas “cisternas” que vão atendendo às outras regiões: o centro cerebral atendendo às funções intelectivas do homem, acionando as funções da mente; o centro laríngeo responsável pela respiração, pela fala e todas as funções importantes do aparelho fonador; temos o centro cardíaco que está ativando as emoções, as emissões do sentimento do homem, atuando sobre o músculo cardíaco. Conhecemos o centro gástrico responsável pela digestão energética e naturalmente achamos aí, no campo da mediunidade, uma contribuição muito grande, porque os médiuns invigilantes ou que estão nas lides sem o devido policiamento, sem as devidas defesas, quando entram em contato com atormentados, sentem as tradicionais náuseas, absorvendo energias que os alimentam de maneira negativa e provocam mal-estares de repercussão no soma, no corpo físico; a dor de cabeça, tão comum aos médiuns, são energias atingindo o centro cerebral. Lembramos, ainda, o centro esplênico, responsável pela filtragem de energia, atuando sobre o baço, do mesmo modo que este é responsável pelo armazenamento do sangue, pela filtragem; e, achamos o centro básico ou genésico, por onde absorvemos a energia provinda dos minerais, do solo, o chamado pelos jogues de “kundalini” ou “fogo serpentino”.
Esses centros espalhados são tidos como os mais importantes, mas, ao longo do corpo, temos vários outros centros por onde as energias penetram ou por onde elas são emitidas. Dessa forma, os centros de força são distribuidores de energia ao longo do corpo psicossomático que têm a função de atender ao corpo somático. Identificamos a correspondência das veias, das artérias e dos vasos no corpo físico com as “linhas de força” do corpo perispiritual. Eis porque, quando recebemos o passe, imediatamente, sentimos bem-estar, nos sentimos envolvidos numa onda de leveza que normalmente provoca-nos emoção.
Porque as energias penetram o centro coronário e são distribuídas por essas “linhas de força”, à semelhança de qualquer medicamento, elas vão atingir as áreas carentes. Se estivermos com uma problemática cardíaca, por exemplo, não haverá necessidade de aplicarmos as energias sobre o músculo cardíaco, porque em penetrando nossa intimidade energética, aquele centro lesado vai absorver a quantidade, a parcela de recursos fluídicos de que mecessita. Do mesmo modo, se temos uma dor na ponta do pé e tomamos um analgésico, que vai para o estômago, a dor na ponta do pé logo passa. Então, o nosso cosmo energético está, como diz a Doutrina Espírita, ligado célula por célula ao nosso corpo somático. Por isso, os centros de força do perispÍrito têm seus correspondentes materiais nos plexos do corpo carnal, ou, diríamos de melhor maneira, os plexos do corpo carnal são representantes materiais, são a expressão materializada dos fulcros energéticos ou dos centros de força, ou, ainda, dos centros vitais do nosso perispírito.

29 -Considerando os vários casos mediúnicos abordados no livro Painéis da Obsessão, perguntamos se durante a recepção do livro o irmão desdobrou-se e conviveu com o ambiente espiritual?

Divaldo - Durante o trabalho de psicografar o livro romanceado, os espíritos permitiram-me acompanhar o que grafavam. Como são psicografias feitas em horas específicas, adrede reservadas para esse mister, registramos cenas, à medida que os espíritos iam escrevendo, através dos clichês mentais que me projetavam. Certa vez, quando psicografava o Párias em Redenção1, que foi o nosso primeiro romance mediúnico ditado por Victor Hugo, observamos toda a paisagem que ele mostrava enquanto meu braço escrevia.
Para minha surpresa, notei, quando li as páginas, que havia visto muito mais do que ali estava escrito. Ocorreu-me a idéia de explicar aos confrades de nossa Casa, que era o mesmo que ir ao cinema acompanhado por um cego e estar explicando-lhe as cenas que se projetam na tela. A capacidade visual é muito maior do que a palavra ou a grafia.
Assim, quando Manoel Philomeno escreveu a obra Painéis da Obsessão2, eu acompanhei o que estava anotando, havendo sido levado à Colônia, onde se realizavam as duas intervenções cirúrgicas na personagem central de nome Argos, que havia contraído a enfermidade física, graças a um processo obsessivo que, atuando por meio de vibrações viciosas nos centros vitais, a que se referiu Raul, terminou por matar as defesas imunológicas do organismo, dando margem a que o bacilo de Koch, que se encontrava no organismo, viesse a formar colônias em seus pulmões.

1 FRANCO, Divaldo Párias em redenção, Victor Hugo, 2ª ed, FEB, Rio de Janeiro – RJ, 19762 FRANCO, Divaldo. Painéis da obsessão, Manoel Philomeno de Miranda, 1º edição, LEAL, Salvador-BA, 1983.
Espiri-tista